terça-feira, 6 de julho de 2010

Lar... mera questão de referência



Muitas são as histórias de animais abandonados que vivem às ruas, virando as latas de lixo para garantir o próprio e mísero sustento. Poucas delas têm ainda hoje, o poder de nos surpreender, afinal, são tantos os casos tristes de maus-tratos e descuidos com os bichinhos, que isso até tornou-se uma banalidade.
Mas a história de um cãozinho branco chamou a atenção dos moradores da nossa rua em Ijuí. Ele chegou há alguns meses e virou o assunto principal nas rodas de chimarrão. De quem é este cachorro? De onde ele veio? Nenhuma pergunta foi respondida e ele foi ficando.
Com o passar dos dias, era impossível não se encantar ao observá-lo correr atrás de todos os carros que ousavam passar por nossa rua. Lá se ia o canino latindo até que os veículos terminassem a travessia. Também era lindo vê-lo sob a luz do sol quando deitava para se aquecer. E assim ele foi fazendo muitos amigos, que os alimentam todos os dias e, às vezes, dão até um chameguinho.
O cãozinho ganhou um nome: Tobi. Este, foi-lhe dado por sua melhor amiga Carol, que foi a primeira a lhe dar atenção. E ele tem muita gratidão a ela. Cada vez que sai da casa dos seus familiares, Tobi a acompanha até que ela chegue em casa com segurança. É um cãozinho guardião.
Esse hobby, tornou-se também a sua profissão. Hoje ele cuida dos carros que ficam estacionados à rua. Ele deita ao lado de uma das rodas e, quando o proprietário chega, ele abana o rabo, em saudação. Basta o motorista dar a partida que lá se vai ele ao lado pulando e latindo como se dissesse “vá com cuidado”. Mas em alguns casos não tenho dúvida de que ele diz “essa é a minha rua, vá logo”.
Assim como os demais cães guardam com firmeza e rebeldia o pátio de suas casas, ele cuida de toda a rua. É um privilégio ter tanta liberdade. Grande figura, este Tobi.
Outro dia eu ia saindo da agência bancária (que inaugurou aqui na esquina) e um senhor me abordou na rua, perguntando se eu morava aqui. Coisas que só acontecem mesmo em cidades de interior... Ele queria me contar que veio buscar o Tobi, com um prato de comida e uma coleira, pois queria dar-lhe uma história diferente, oferecer uma casa coberta, água e comida à vontade todos os dias. Mas Tobi não lhe foi amigável e recusou o convite. Virou as costas e seguiu para uma de suas caminhadas matinais.
Lar é mera questão de referência. Para Tobi, a nossa rua é o seu lar. Seu lar sem um teto, mas onde ele adora estar e deitar-se sob a sombra das árvores. Onde ele conversa com seus amigos cachorros pelos portões e até troca pulgas com eles, tamanha a amizade. Um lar onde ele não encontra o aconchego de uma cama quentinha, mas a cada dia em que vê o sol se pondo, ele sabe que é ali o seu lugar.

Um comentário: